Entrevista com Dr. Francisco Sá, Presidente do IAPMEI

Qual para si a relevância do BI na gestão das PMEs? Existem hoje setores que se destacam por ter uma maior maturidade no reconhecimento da importância do BI para a gestão do negócio?

No IAPMEI, preocupamo-nos em apoiar as empresas no reforço da sua capacidade de intervenção no mercado e de criação de valor através da inovação, do investimento, mas também, através de um sistemático reforço e valorização das suas competências e modelos de negócio.

Sabemos que para otimizar a gestão dos negócios e assegurar uma dinâmica competitiva há que conhecer os mercados, antecipar tendências e saber tirar partido da informação disponível. Mas, sabemos também que na base das decisões dos gestores está, muitas vezes a sua intuição, a sua experiência empírica. Aliás, com tanta informação disponível, decidir de forma rápida e fundamentada em informação, dados e conhecimento, é um exercício que pode revelar-se tão avassalador como pouco eficaz.

É neste contexto que valorizamos as ferramentas de Business Intelligence. Através desta abordagem é possível transformar dados em informação útil e muito relevante para suporte à decisão.

Embora as PME partilhem de um determinado conjunto de características comuns, não formam um grupo homogéneo no que se refere à forma como se organizam e respondem aos desafios da sua atividade. Esta mesma diferenciação pode ser percebida na forma como abordam a sua função gestão. Também neste domínio se reconhecem diferentes níveis de maturidade e mesmo de sensibilidade ou de reconhecimento do potencial do BI para o negócio.

Como o IAPMEI vê a evolução da utilização dos dados e do Business Intelligence nas PMEs em Portugal?

Acreditamos que estas ferramentas podem constituir-se como um importante instrumento facilitador de uma gestão mais qualificada, contribuindo para um melhor controlo da produtividade, para uma sustentável redução de custos – numa palavra, para uma gestão mais qualificada, inovadora e eficaz.

Neste contexto e à medida que se impõem estratégias de competitividade mais ousadas e ambiciosas, as PME tenderão a recorrer a modelos de gestão mais estruturados, sustentados em informação cada vez mais qualificada.

Acreditamos por isso que haverá um progressivo reconhecimento do potencial destas ferramentas e da sua utilização.

O IAPMEI tem vindo a desenvolver ações para promover e a apoiar as PMEs na adoção do Business Intelligence. Como vê a evolução nos próximos anos e quais, no seu entender, serão as oportunidades e ameaças que esta adoção mais generalizada, pode representar face ao contexto atual das PMEs?

Nós reconhecemos que só as empresas inovadoras e competitivas conseguem manter trajetórias de crescimento e de criação de valor.

Nestas circunstâncias, sabemos que as empresas procuram, sistematicamente, adotar estratégias que lhes garantam uma posição de liderança e maior competitividade.

As dinâmicas de mercado cada vez mais exigentes acabam por se constituir simultaneamente em oportunidades e em ameaças que as empresas tentam equilibrar com as suas opções e estratégias. E, muitas vezes, a aplicação de estratégias mais ambiciosas e competitivas só têm sucesso se a empresa souber otimizar os seus recursos e as suas vantagens endógenas, através da informação e do conhecimento.

O contexto económico atual – e o que se prevê para os próximos anos – vai certamente colocar pressão adicional às empresas, e em particular às PME, sobretudo na fase de recuperação e de estabilização da atividade no período pós COVID.

Mas, também sabemos que haverá um forte reforço das políticas públicas de suporte à recuperação e à atividade das empresas o que poderá constituir uma poderosa alavanca para acelerar investimentos em inovação, incluindo aqui naturalmente a inovação na gestão.

Enquanto Instituição de referência no apoio às PMEs, como vê a evolução das competências técnicas e profissionais de Business Intelligence? Que oportunidades vão existir nos próximos tempos para os jovens e profissionais que queiram desenvolver estas competências?

Cada vez mais as empresas reconhecem o valor de serviços de apoio qualificados e o seu contributo para o sucesso das suas estratégias. Com a afirmação do BI no mercado é de admitir que a procura por este tipo de serviços venha a aumentar. Assegurar a disponibilização de um serviço competente exigirá um adequado número de profissionais devidamente qualificados que o mercado reconhecerá e que certamente saberá premiar. Os atuais profissionais e os próximos, (jovens ainda em formação), já têm ao seu dispor um conjunto alargado de oferta formativa nas áreas indispensáveis ao desenvolvimento de BI, desde o analytics à inteligência artificial, passando pelo big data e cloud computing. Enquanto instituição próxima das PME, apostaremos na divulgação das boas práticas e alguns case studies que possam alavancar este percurso no seio das nossas empresas.

Sendo o IAPMEI uma entidade que nos habituou a ditar tendências, nestas e outras áreas da gestão de negócio, considera que o Business Intelligence que irá marcar o futuro das PMEs?

Para responder aos desafios da competitividade e para que seja viável assegurar uma trajetória de crescimento sustentável as PME precisam de visão e de ambição, mas também precisam de metodologias de gestão que lhes permitam ganhos de eficácia e de eficiência na exploração dos seus negócios e na criação de valor. As vantagens competitivas tendem a ser suportadas na capacidade de diferenciação que as empresas apresentam face às suas concorrentes e, nesta dimensão, a capacidade de utilizar da melhor forma a informação que lhes está acessível concede-lhes um fator de diferenciação não negligenciável.

Os sistemas de Bi apoiam as empresas nos seus processos de tomada de decisão, eliminando as decisões sem suporte em dados reais do seu negócio. Na prática, conseguimos perceber se uma empresa possui um sistema de BI, se tem ao seu dispor uma visão abrangente da sua informação e utiliza essa informação para impulsionar mudança, eliminar ineficiências e rapidamente se adaptar à evolução do mercado e das cadeias de abastecimento.

O mundo atual exige processos de decisão num espaço curto de tempo, sob pena de “termos que apanhar o comboio seguinte”, pelo que considero que o BI irá marcar, sem sombra de dúvida, o futuro das PME e as vai apoiar, nos seus percursos, para se tornarem ainda mais fortes e reforçarem as suas vantagens competitivas.

O IAPMEI possui já um conjunto de iniciativas que colocam a instituição, como habitualmente, como um parceiro dinamizador das melhores práticas de apoio à gestão das PME e, no que toca ao BI, não será diferente. As PME continuarão a contar com o IAPMEI para a divulgação das melhores práticas e iniciativas que possam apoiar os seus processos de implementação de BI.

Com os níveis de exigência sempre a impor respostas mais qualificadas será razoável admitir que as PME saberão reconhecer o potencial de ferramentas e metodologias de trabalho como o BI.

 

Muito obrigado pela entrevista.

29 de março de 2021,

Eng. José Rui Gomes,

Presidente da Associação Portuguesa de Business Intelligence